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Se eu vivesse de cultura, ele seria um relacionamento abusivo.
Eu preciso contextualizar você um pouco: este ano eu faço 39 anos de idade e algumas coisas só começaram a fazer sentido muito agora. Eu trabalho desde os 17 anos, e desde 2009 (portanto, quase quinze anos a serem completados no ano que vem, em 2024) foram feitos para as curadorias, cultura e pesquisa em artes visuais.
Em 2010 terminei o mestrado e em 2016 terminei o Doutorado, com pesquisa em Artes Visuais e História da Arte e Cultura. Basicamente, fiquei esses anos todos escrevendo e fazendo conteúdo para que os Salões de Arte Contemporânea de Santo André, especificamente, e de forma mais ampla, os Salões do ABC Paulista, do qual foram meus trabalhos de mestrado e doutorado, pudessem ganhar algum destaque e de alguma forma pudessem sair do ostracismo ao qual se encontravam. Que bom que eu pude ajudar essa história a ser contada, ela só estava me esperando durante quase 45 anos para ser contada.
Eu amo trabalhar com cultura, mas se esse relacionamento fosse um casamento, ele certamente seria um relacionamento abusivo. O mercado cultural mudou, o mercado de Ensino Superior mudou (afinal, eu fiz mestrado e doutorado para dar aula em Universidade), e tudo bem que mudou… mas de alguma forma eu me perdi nele.
Durante esses quase quinze anos de trajetória cultural, eu irei agora dar um tempo pra meus trabalhos de produção em curadoria. Os piores momentos da minha vida foram vividos em situações bizarras enquanto eu trabalhava com cultura: um curador de uma Bienal que vetou um texto meu porque eu me recusei de retirar a citação que eu usei da Wikipédia, e aos gritos ele falava “Eu sou doutor, eu sou doutor” (sendo que eu também era) e usando seu micropoder ele gritava “Eu irei tirar o seu texto, eu irei tirar o seu texto” e eu respondi, fique à vontade, você é o curador, você pode fazer o que quiser; e assim eu perdi a oportunidade de ter um texto numa grande Bienal; e um outro caso de um galerista de uma galeria do ABC paulista, que gritou comigo e me humilhou na frente de todos os funcionários dele, e por isso, as pessoas nunca souberam que fui eu quem ajudou a criar essa galeria simplesmente porque ele apagou todas as memórias das minhas exposições, dizendo que ele que fundou a galeria e tinha feito tudo desde o início.
Eu já limpei vômito de gente bêbada, no chão de num McDonalds de beira de estrada às 3 da manhã. Eu já recebi xingamentos durante os 3 anos que eu trabalhei em cobranças por telefone, eu trabalhei anos em escola estadual ouvindo os maiores desaforos, mas ter trabalhado com cultura foi o mais tóxico de todos eles, nada foi como a experiência deste ano de 2023: depois que eu terminei a ligação eu chorei tanto, que nem por término de relacionamento eu chorei assim; uma pessoa de uma grande organização cultural da qual eu fiz uma produção recentemente, me ligou dizendo que “não concordava com o fato de eu ter escolhido os vídeos dos artistas, falando sobre a infância deles, na TV da exposição”, e depois de eu explicar o quão grosseiro esse pedido tinha sido (simplesmente pq esses vídeos tem tudo a ver com a minha trajetória de pesquisa, eu os faço seguindo uma estrutura Foucaultiana), fiquei desolado. Parece que todo o esforço não faz sentido e de fato não fez mesmo.
Essa experiência deste ano me mostrou que a arte e cultura, assim como a minha empresa da qual eu dediquei toda a minha energia para transformar a cultura com tecnologia (O Artyou Global, e o Stories App que não deu certo, ok… por uma questão comercial de não ter gente o suficiente comprando os serviços pra que ele girasse), e esta última foi mais uma forma de constatar de que eu sempre me doei muito mais para a cultura do que ela de fato um dia me entregou de volta, e tudo bem, a vida é assim, desequilibrada.
Em 2019 – 2020, eu descobri que eu gosto mesmo de criar e de criar coisas bonitas para ajudar as pessoas a verem apenas o melhor delas mesmas. Agradeço de coração todas as pessoas que eu trabalhei com produção cultural e os artistas todos que me abriram suas casas e ateliês de forma tão especial.
E agora, eu irei buscar mais equilíbrio. Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê.